Querido Diário

Que atire a primeira pedra quem nunca parou pra pensar no passado e
desejou voltar e fazer tudo outra vez?
Que tempo, que fase que lutas e que alegrias.
Quantas histórias pra contar.
Aquele tempo cadê minha preocupação.
Eu era menina de esquecer as resposabilidades em casa levar só um pouco de juízo no bolso andar de mãos vazias sem rumo e contagiar todos com
e soltar um sorriso quando tudo desse errado.
Sempre deu certo.
Guardei muitas vezes meu orgulho, jogava todos os relogios que minha mãe me
dava fora.
Celular?
Era a mesma coisa que não ter.
Eu nunca atendia ninguém, e vinha sempre com a desculpa de que acabou a bateria.
Abria a porta e saia correndo.
Minha mãe faltava arrancar os cabelos quando saia com o skate debaixo de braço.
Era como se estivessem acabado de abrir a gaiola e deixado o passarinho ir embora.
A banda acabava de nascer, eu sabia de cór todas elas.
As letras pareciam serem escritas pra mim.
Mais que menina travessa.
Não tinha um lugar que eu não fosse que não tivesse
muita gente junta.
A não ser na hora de voltar pra casa.
Era só eu e eu mesma.
Com as mãos enfiadas no bolso da calça chinelos de dedo cantarolando.
Saudade daquele sofá laranja, quantas vezes já dormi nele?
Que fase, que tempo.
Meu querido diário, eu escrevia todas as noites.
te contava absurdos e grampeavas as partes que minha mãe não poderia nunca
sonhar ler.
Hoje ele tem as paginas me branco.
Ele virou minha lembrança.
Sempre que quero lembrar e rir de algo é só
pegar a caixa de madeira dentro do armário e relembrar tudo
como se fosse ontem.
Se eu pudesse voltar, faria tudo novamente.
Sem medo, iria de olhos fechados.
Querido diário, hoje é isso que tenho a lhe confessar.
Estou me despedindo dessa fase e tomando um rumo diferente.
Depois de tanto tempo eu resolvi revirar o passado
e ver que dentre algumas pequenas dificuldades
eu vivi muita coisa boa e engraçada nessa fase.
E tudo que deixa de virar meu presente vira meu passado.
Vira fase.
Dessa eu nunca quero me esquecer.